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Mostrando postagens de fevereiro, 2017

{encontros clandestinos}

foi naquela tarde morna que recebi a graça de mirar teus olhos de baobá. a princípio fiquei paralisada, estática você olhava pro céu sentia apenas o toque do tambor ancestral pulsar por cada fibra transe em forma de raiz e por um instante revivi todas as minhas vidas passadas e nos teus olhos baobá vi todas as tuas. saí do meu corpo: eu já não era eu, mas senão um buquê de espíritos e estradas estradas de mulheres e homens que perambulando descalços por centenas de milhares de estrelas contam histórias de caçadas e plantios habitamos naquele instante um mistério profundo - revelado por canto grave de mulher velha algo sobre a cor amarela do fim de tarde que ao enternecer nossa testa e nossos lábios traz a benção dos antepassados. admito que poderia ouvir teus contos por algumas vidas sentados, eu e ti, sob a sombra de um baobá aquele dos teus olhos. percorreríamos a trilha da sabedoria de mil flores azuis como nosso único e mais pleno destino. contudo, olho pra ti prisioneiro nesta

{vocábulos frutíferos}

até que eu ceda à sede vulgo agarrar papel e caneta minha mente-turbilhão não sossega me sacio nas palavras contorcidas, porosas, hiperbólicas pontas de lança gume de faca es[x]premedor de laranja parada, contemplativa miro linhas - aquele arame farpado no pomar a caneta insiste quer apanhar e cortar laranja dilacerar precisamente a casca chegar à fina camada branca que esconde os sumos a lança esferográfica cutuca o gomo certeira, explode uma por uma daquelas bolsinhas insignificantes verte, escorre pondero: seria desperdício absurdo não sorver? basta apenas uma bebericada: me contamino acidez e doçura abocanho gomo a gomo papel-bandeja me serve palavra-líquida [gosto daquelas bolsinhas estouradas] fluxos cítricos travestidos de tinta azul me inundam o peito saciam sedes antigas mancham a ponta dos dedos é cheiro alaranjado de vida que escorre pelas páginas do caderno.

{primeiros passos}

sob a luz da lua cores marinhas - serenas e flamejantes encontro espécie exótica de paz: cores dúbias de presságio é fantasma que paira é chão que se pisa minha pele arrepiada não mente ainda assim tocar o mundo imundo com as pontas dos dedos cortados - imprescindível tateando hesitante à meia-luz sinto as texturas: cacos de vidro, pétalas de flores, água morna corrente endógena busco a nascente