>/ >/ comboio - primeira estação

elefantes caminham pela savana:
comendo folhas, bebendo água.

não existe hidratação maior que memória de manada

[às vezes a fome é tanta que se derruba a árvore]

e ao marchar,
as paisagens, elefantes, ramas
suas orelhas e seus alto falantes
se perdem entre horizontes e poeiras de cantos distantes.


O chapéu caqui recém comprado sempre esteve nos imaginários das aventuras de , desde os filmes, aos livros, passando pelos desamores alguns.
o símbolo, a coroa ensaiada não poderia ser outra senão o chapéu cáqui que neste instante já estaria umedecido de suor e vapor de realidade atmosférica: atmosfera amarela pintada de gramíneas, baobás, cactos e acácias.
a cada passo, a cada folhinha, a cada nuvem, ao mirar os céus Misturinha 1 se deixava envolver por um encantamento mútuo entre paisagem e sonho.
estar ali presente, representava todos os caminhos de uma estrada que pouco importava se havia sido pré-vista ou não.

uma vez que a partida se fez chegada, o chapéu na cabeça, botas nos pés, novas rotas precisavam ser trançadas, por questão de conteúdo, contudo, Misturinha 1 não sabia por onde começar.
pensou, olhou, experimentou e lembrou de seus ancestrais - de andeja natureza - e se pôs a percorrer: melhor forma de se reconhecer, avó dizia.
observava tudo quanto era coisa ou descoisa e na maior parte do tempo, não sabia diferenciar entre umas ou outras, mas isso também não era relevante, naquele momento, a imagem do sonho - carregado feito amuleto no pescoço - era o bastante.
uma casinha azul de madeira, telhado de palha e janelas grandes foi seu primeiro abrigo, mesmo não sendo casa, era teto.
o sono foi pesado, entre-cortado e independentemente do efeito ou propósito que se confere ao ato de de dormir ter sido cumprido, percebeu que sempre chegava o porvir, sempre.

de café em café, era perceptível a aproximação da realidade ao chão,
de estação em estação, Misturinha 1 comparava o tempo aos comboios que cruzavam a vila trazendo mantimentos, suas gentes e seus condimentos.
entre pensamentos, brincava de imitar os pássaros crendo nos segredos revelados pelos pios, assim, não foi surpresa alguma a chegada do dia em que as caminhanças se converteram em fatos, os quais, na manhã seguinte seriam narrados.

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