{estrela altiplanica} - retorno da coragem

subo montanha de cume alto, íngreme,
pedras dançantes ao longo da estrada sinuosa.
sinto o cansaço, tornozelos doloridos,
indago "alguém ainda se lembrará de mim?",
um coração - pesando tanto quanto a montanha - habita em mim
golpeia, treme e rui
sem perder a altivez.
na cintura o punhal,
se há algo que sei bem é ler sinal de perigo,
ablução para a violência
alerta!

meu algoz, sem esmorecer,
me diz que para alcançar a liberdade plena
devo ter as mãos manchadas de sangue -
é preciso saber matar e morrer-se com disciplina,
ritualisticamente por assim dizer;
é indispensável arranjar leito na solidão povoada de vozes -

presentes e imperativas, futuras do pretérito.
ouço a voz de pachamama cantarolada, murmúrio ventado
"es mi destiiino, piedra y camiiino"
e como se me recordasse de outros lugares-tempo

o comando ancestral me coloca em marcha.
"à esquerda",
me informa a tecelã de sonhos que amamentava os viajantes à beira da estrada,
"e não se distraia, todas as coisas merecem um nome".

nomeio, subo, apunhalo, respiro, atiço, afogueio.

coberta de cinzas, por contraste, me atino: eu vivo.
entre a vida e a morte é que floresço liberdade.

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