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Mostrando postagens de janeiro, 2019

estiagem

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é do sertão que brota o sol, e do casebre ao fundo, a cada coração que pulsa,  uma nova fase da lua para enfrentar o calor do dia seguinte. no chão só rastros de águas, patas e pegadas antepassadas, aqueles caminhos outros, sentido às cacimbas onde toda gente se reunia para dar de beber: fosse humano, fosse bicho, separação que nunca fez muita diferença na hora dos padeceres, o destino é sempre o mesmo: peregrinar pela provisão. a morada do sol secou, e no casebre ao fundo, a cada coração que pulsa, uma lembrança da época das torrentes, a repetição do mesmo tipo de sorriso, e o sinal da cruz para abençoar o novo dia. é de cedo que a mãe despede o filho, e, sem demora, dá de beber ao sol, quase não sobra pras bocas da terra. as bocas da terra sempre pedem mais, insaciáveis, confessam seus atos canibais. a mãe chora e elucida: ou é o sol ou é a prole, se eu navegasse, não rastejava. a.n.

{à margem}

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do ponto de vista da rede, o tempo parece durar mais. não por contar os segundos mais lentamente, mas por balançar mais vezes entre as rajadas de vento: a cruviana segue seu próprio tempo. por quanto vento um ser se sustenta parado enquanto sobe a maré? silêncio no tempo da semifusa, compasso amazônico - só se ouve o barulho do motor, os respingos d'água na vista e o bocejo da tarde. do outro lado da margem, não existe areia que não sustente a brincadeira e a euforia dos que vivem de oásis em oásis: pausa para criar contos que falem sobre os mistérios e propriedades da luz da lua refletida n'água. qual é a intensidade de tempo necessária para balançar uma árvore? os pássaros do quintal voam pra lua quando é maré cheia. a.n.