{a-polo 25}

sempre sonhei em ser astronauta
solta no espaço sideral
flutuando devagar
poeira cósmica

grudada na ponta dos dedos
tipo glitter, na ponta dos cílios
grudado no rímel

ignoro isso de direção
me parece projeção, ereção, dispersão...
se me lembro bem das aulas de física da adolescência
tudo depende do tal ponto de referência

aqui no espaço sideral,
perdida no cosmos
isso não importa muito, na moral
de nada me serve a força brutal

não sei lidar muito bem com ausência de peso
ou mais precisamente:
gravidade

por isso, de tempos em espaço-tempos
invento campos gravitacionais de conhecimentos
escolho centros, imagino vetores coloridos
apontando galáxias mais roxas do que azuis

mas assim que desvendo o mistério da referência
como que num paradoxo de mágica
o campo sucumbe por adjacência,
talvez coerência

e em espiral uma vez mais flutuo
pela imensidão de luzes e sombras
tudo em câmera lenta
não há nada que eu possa fazer
nada me acalenta

aqui no espaço sideral,
perdida no cosmos
isso não importa muito, na real

de nada me servem os jogos de palavras
saturno se diverte
com minhas análises de discurso tão apuradas:
há!

não sei lidar muito bem com ausência de intensidade
ou mais assertivamente:
gravidade

um monstro está à espreita
nas tantas sombras de um asteroide
que cruza meu voo
numa curva mal-feita

não há nada que eu possa fazer
a não ser dar o braço a torcer
e aceitar
que do início ao fim de cada anoitecer
minha função estelar
é me des(a)prender.

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