>/>/ comboio - passagem

seguindo os ensinamentos do lançar um pé após o outro,
Misturinha 1 se apresentava tal qual era a todo e qualquer habitante daquela Savana,
sua intuição lhe dizia que tudo era ser vivo, do mais chamativo ao menos atrativo:
cada elemento e sua função.
ia passando seus dias a percorrer estradinhas de terra
serpenteando entre as casas,
as criações de galinha, as roupas no varal,
os risinhos de criança,
os cheiros novos e velhos,
os troncos de árvore e seus olhares antigos.

~~~ os cursos d'água~~~

ao descobrir algo novo, gargalhava,
e de vez em quando, se chovia, chorava de pena pelo mistério desfeito.
quando isso acontecia, a terra presenteava Misturinha 1:

"a cada lágrima que se deixe tocar o chão, uma semente para aquecer o coração"

e assim, as plantas que cresciam dessas sementes, por tradição,
todos os finais de tarde sussurravam todo tipo de histórias de terras outras.
ao anoitecer, Misturinha 1 sonhava com as narrativas das plantas,
e ao despertar, voltava a percorrer.

o sol já se encontrava na metade de seus rumos diários quando Misturinha 1 parou para beber água.
ao elevar as mãos aos lábios, percebeu que já sabia distinguir entre o doce do rio e o salgado do suor.
enquanto matava a sede, alimentava os olhos com as ramas de folhas e flores que faziam companhia aos percursos fluviais.
sentada às margens, não pertencia nem ao que era de dentro, nem ao que era de fora do rio, gostava de brincar de cruzar fronteiras, porque assim aprendia
o que era de lavar e o que era de construir,
o que era de fluir e o que era de ligar.

no mesmo jogo de juntar uma coisa daqui e outra de acolá, pensava se seria muito tormento criar um jeito de habitar mais de um mundo ao mesmo tempo.
a correnteza que era feita de água com vento, nascida nas bandas dos cajueiros,
ouviu a pergunta de Misturinha 1 e das beiras de lá, mandou o canoeiro chamar,
devido à fama de antepassado que aprendera a flutuar.

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