|| natal ||

sempre achei que por ser míope,
desde os 6,
sem os óculos postos nunca poderia encontrar:
toalha, letra, rumo...

qual não foi minha surpresa,
quando aos 26,
enxerguei ali no meio do campo,
na imensidão das 3,
aquela árvore branca retorcida.

os olhos e o peito se fizeram cheia,
contrastando com a paisagem e sua estrada,
que de tempos em tempos,
vai deixando pelas beiradas casinhas brancas de renascer,
com suas cruzes sempre apontando pro céu.

digo a mim mesma que a água e a visão recobrada não são ilusão,
digo que são tão reais quanto o arco-íris que se forma na fumaça d'água,
produzida pelas rodas de um caminhão qualquer
que desliza pelo asfalto lá pelas 4,
depois da chuva.

a dificuldade é que pela costumeira vista embaçada,
sempre desconfiei do que via:
da sombra, da forma, da intenção.

depois do campo,
meu passo inconstante,
me levou pra bem distante,
e lá no rancho da bonita
me fez parar por um instante.

no horizonte do ranchinho,
tinha uma portinha azul,
da qual, lá pelas 6
surgia a moça das flores amarelas.
peço um café, por gentileza,
e recostada na janela,
falo da alegria na tristeza
e da destreza na miopia,
explico a minha descrença.

me diz:
- é o tal peito cato-laico.

ensina:
"caminho tem ida e volta,
ônibus tem dois lados de janela pru mode a gente atinar
que existe morte e vida,
e que miopia se cura na travessia,
dois sentidos da mesma estrada".

-volta, minha filha!
-volta, minha neta!

con el mismo vuelo,
vuelvo.




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