estiagem

é do sertão que brota o sol,
e do casebre ao fundo,
a cada coração que pulsa, 
uma nova fase da lua para enfrentar o calor do dia seguinte.
no chão só rastros de
águas, patas e pegadas antepassadas,
aqueles caminhos outros,
sentido às cacimbas onde toda gente se reunia para dar de beber:
fosse humano, fosse bicho,
separação que nunca fez muita diferença na hora dos padeceres,
o destino é sempre o mesmo:
peregrinar pela provisão.
a morada do sol secou,
e no casebre ao fundo,
a cada coração que pulsa,
uma lembrança da época das torrentes,
a repetição do mesmo tipo de sorriso,
e o sinal da cruz para abençoar o novo dia.
é de cedo que a mãe despede o filho,
e, sem demora, dá de beber ao sol,
quase não sobra pras bocas da terra.
as bocas da terra sempre pedem mais,
insaciáveis, confessam seus atos canibais.
a mãe chora e elucida:
ou é o sol ou é a prole,
se eu navegasse, não rastejava.

a.n.




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