{vocábulos frutíferos}

até que eu ceda à sede
vulgo
agarrar papel e caneta
minha mente-turbilhão
não sossega

me sacio nas palavras
contorcidas, porosas, hiperbólicas
pontas de lança
gume de faca
es[x]premedor de laranja

parada, contemplativa
miro linhas -
aquele arame farpado no pomar

a caneta insiste
quer apanhar e cortar laranja
dilacerar precisamente a casca
chegar à fina camada branca
que esconde os sumos

a lança esferográfica
cutuca o gomo
certeira, explode
uma
por
uma
daquelas bolsinhas insignificantes
verte, escorre

pondero:
seria desperdício absurdo não sorver?

basta apenas uma bebericada:
me contamino
acidez e doçura

abocanho
gomo
a
gomo

papel-bandeja me serve palavra-líquida
[gosto daquelas bolsinhas estouradas]

fluxos cítricos travestidos de tinta azul
me inundam o peito
saciam sedes antigas
mancham a ponta dos dedos

é cheiro alaranjado de vida que escorre pelas páginas do caderno.

Comentários